Rumo
ao Oscar 2013, os prêmios que interessam ao grande público!
A festa
de cinema comercial pseudointernacional mais esperada do mundo vai
rolar no dia 24 de fevereiro deste ano. Tem um monte de categorias
chatas (técnicas) que só interessam aos profissionais do ramo, tais
como melhor maquiagem e melhor edição. E quem é que é tão
sensível para captar as sutilezas de mixagem e edição sonoras de
um filme?
Para o
público mesmo, o que interessa é melhor filme e melhores atores, de
preferência os mais lindinhos e meigos, os tipos ideais para
publicidade de margarina ou detergente. Em relação ao prêmio para
os atores, há uma discriminação irracional entre ator e atriz e
entre principal e coadjuvante, como se exercessem os ofícios de
maneiras incomparáveis.
O meu
sonho de consumo é ver todos os filmes e, se possível, comentar
todos os das categorias de melhor filme, melhores atores, melhor
roteiro original, melhor animação, melhor documentário e melhor
filme estrangeiro.
Deixem-me
discorrer um pouco sobre as categorias do Oscar:
Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption, 1994), tão amado pelo público, ganhou nenhuma estatueta! |
Melhor
filme – Antigamente eram apenas cinco indicados, hoje pode
chegar a dezenas, dependendo do número de votos recebidos. Gostava
mais da limitação antiga, por considerar mais coerente com as
outras categorias que também recebem no máximo cinco indicações.
Este ano são nove indicados e até este momento só vi quatro, me
dando uma diarreia de ansiedade para conseguir ver os outros cinco
nesses tempos de carnaval.
Se fazer de uma humilde coadjuvante pode ser uma boa estratégia |
Melhores
atores principais e coadjuvantes – Tal como uma olimpíada, o
prêmio é diferenciado em prêmio para quem tem pênis e prêmio
para quem tem vagina (ficam de fora os hermafroditas), como se fosse
impossível comparar a atuação de atores de sexos opostos. Bem,
atores principais são aqueles que interpretam o personagem motivo
pelo qual a estória existe. Muitas vezes o personagem principal nem
aparece tanto assim, ressaltando-se os personagens coadjuvantes,
exemplos: Onde os fracos não têm vez (No
country for old men, 2007) e O paciente inglês (The
English patient, 1996), onde quem se destacaram,
respectivamente, foram os coadjuvantes Javier Bardem e Juliette
Binoche. Os americanos acham que interpretar um papel de
personagem coadjuvante é exercer um papel menor, daí esses prêmios
serem anunciados antes do de atores principais (que imagino devem
ganhar um cachê maior também). Essa diferenciação de premiação
me parece meio absurda, pois interpretação tem que ser boa, visto que o
exercício da profissão é o mesmo mas... vai explicar isso pra
eles! O problema de diferenciar os papéis me parece mais uma questão
de marketing, pois há casos de filmes com muitos personagens
importantes, sendo difícil diferenciar o principal do coadjuvante. O
melhor exemplo para este ano é o filme O mestre (The
master, 2012), de Paul Thomas Anderson. Quem exerce o papel do
título é o classificado como coadjuvante, Philip
Seymour Hoffman, que é tão principal quanto Joaquin
Phoenix (o marinheiro perturbado do filme). No filme Uma
mente brilhante (A beautiful mind,
2001), a lindinha Jennifer Connely foi
anunciada como coadjuvante, embora seu papel fosse de atriz
principal, pois assim ficava mais fácil arrebatar o prêmio e
promover comercialmente tanto o filme quanto a atriz – o
estratagema deu certo!
Um bom exemplo de roteiro original com sucesso comercial: Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal sunshine of the spotless mind, 2004) |
Melhor
roteiro original – Essa premiação só interessa para aquelas
pessoas que curtem mesmo uma boa estória e são ávidos por
novidades criativas. Pra mim, assistir a tais filmes é culturalmente
mais enriquecedor do que ver os filmes de melhores atores ou direção.
Raramente conseguimos ver todos os indicados antes do Oscar.
Melhor
direção – Até hoje não entendo bem o que significa isso.
Segundo o Wikipedia, diretor é o cineasta, o
cara que criou a obra. Ora, se o diretor é bom a obra também deve
ser boa. Mas não é assim que pensam os jurados do Oscar. Tem filme
que recebe indicação pra melhor filme e pra mais nada, e tem filme
que tem indicação pra melhor diretor mas o filme é considerado
mais ou menos(?!). A maioria das pessoas lembram mais dos títulos
dos filmes do que dos diretores, e quase nenhum diretor é
referência. Conhecemos um monte de gente que curte ir ao cinema, mas
contamos nos dedos quem vai ver um filme de Tarantino
ou de Lars von Trier (diretor mundialmente
reconhecido mas ignorado pelo Oscar).
Lars von Trier, reconhecido pelo Mundo e ignorado pelo Oscar! |
Melhor
animação – Para os aficionados por desenhos animados (Eu!).
Antigamente os desenhos animados eram chamados de filminhos, um
título muito mais meigo para crianças. Mamãe gritava: "Filho, tá na hora do filminho!" Ocorre que animação não
quer dizer filme para criança, embora, pelo que parece, são os
filmes para crianças que o Oscar valoriza, então, porque não
chamar “melhor filminho”? (best little motion
picture! rs). Este ano eu voto em Detona Ralph,
mas depois da decepção do Globo de Ouro tenho minhas dúvidas
quanto ao resultado.
A velhice e amor são universais, mas o filme é estrangeiro |
Melhor
filme estrangeiro – Os americanos devem pensar que cinema é um
produto que tem país, idioma, religião e ideologia política
chamado Estados Unidos da América. Diferente de um festival como o
de Cannes, onde toda a diversidade mundial é exibida, o Oscar chama
os não-anglofônicos de estrangeiros. Já foi pior, antes bastava não ter sido produzido nos EUA. Infelizmente, é muito raro
vermos todos os indicados estrearem em nossa Terra Brasilis.
Como delimitar a arte a um território político chamado país? O
filme Amor (Amour, 2012), por exemplo, tá lá classificado
como austríaco, mas o título e o idioma é francês, a estória se
passa na capital da França, e o diretor nasceu na Alemanha! Por se
tratar de uma arte universal, uma classificação dessas parece mais
de teor político do que artístico.
O Senhor dos Anéis, adaptação controversa |
Melhor
roteiro adaptado – É com muita relutância que me aventuro a
ver um filme baseado num livro que li e gostei. Os melhores livros
não são filmáveis. Livros bons são como a Bíblia, uma epifania
que inspira e enriquece nossas vidinhas insignificantes, provocando
sentimentos, atitudes, ampliando o conhecimento, alimentando a
sabedoria e dividindo a opinião das pessoas, virando motivação
para a paz e para a guerra, inspirando as artes e estimulando as
ciências. Livros bons plantam um sentimento dentro de nós. Obras
primas como “O retrato de Dorian Gray”
(Oscar Wilde) ou “A insustentável leveza
do ser” (Milan Kundera) talvez até
funcionem no teatro, pois teatro é ao vivo, é vibracional, sem
aquele distanciamento alienante e manipulativo de uma sala de cinema.
Lembro de uma curiosa eleição sobre a trilogia O senhor dos
anéis (Lord of the rings, 2001 a
2003): recebeu o maior percentual de reprovação do público sobre a
adaptação, mas uma certa maioria também considerou a adaptação
perfeita! Talvez, para o Oscar, adaptação não signifique
necessariamente que o filme seja fiel ao livro, mas que seja
inspirado no livro e a obra cinematográfica seja agradável,
daí a trilogia ter sido indicada duas vezes a este prêmio, ganhando
no último filme da trilogia em 2004.
O equilibrista (Man on wire, 2008) é um documentário tão espetacular quanto uma boa ficcão. De tirar o fôlego! |
Melhor
documentário – São filmes interessantíssimos para quem vai
ao cinema buscando aprendizado e se deslumbrar sobre a poética
condição humana. Geralmente só passam em sessões de arte ou em
salas diferenciadas, tais como o Cinema da Fundação.
Matrix (The Matrix, 1999), é um bom exemplo de filme para a categoria resto. Sem maldade! |
O
resto – Melhor fotografia (boas imagens não me comovem),
melhor mixagem e edição de som (ouvido de pobre não sabe a
diferença entre o som de patins e de patinete), melhor figurino, maquiagem e
cabelo (dificilmente um filme vai me inspirar para o carnaval),
melhor edição (interfere na qualidade, mas não é fundamental), melhor canção e trilha sonora original (não
presto muita atenção), os curtas-metragens só vejo se forem
exibido antes de um longa, pois não frequento festivais de curtas
faz tempo e, finalmente, design de produção (antiga direção de
arte) não é grande coisa pra mim. O resto é o resto.
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